Na transcrição do último podcast escrito e gravado pelo Colin Lusk [autor do site Luso: Learn Portuguese ou morrer a tentar] foi necessário transcrever o som de uma pessoa a escarrar e tive de abrir a caixinha das onomatopeias.

Uma onomatopeia é uma figura de linguagem ou recurso de estilo que tenta reproduzir um som do mundo físico. Muitas crianças antes de aprender o nome do animal começam por saber o ruído que fazem. 

serra da estrela dog
raça Serra da Estrela

Apesar do som ser o mesmo, como se transcreve muda de língua para língua. O miar de um gato transcreve-se como “meow” em inglês, “miauo” em francês e miau em português e o ladrar de um cão difere significativamente por nacionalidade mas também raça ou, no mínimo tamanho. Um caniche português diz: “au-au” enquanto um serra da estrela só pode exclamar: ão-ão. E quando rosnam fazer: grrrr.

Outras vozes de animais portugueses são muuuuu para a vaca e méééééé para a ovelha, óinc-óinc para o porco, iiiiiihhh e iihhhó-iiihhhó para o relinchar de um cavado e de um burro, respetivamente. As aves cacarejam mas enquanto o galo canta co-co-ro-có qui-qui-ri-qui, o pato faz qua qua e um passarinho piu piu. Os insetos zumbem e portanto fazem zzzzzzzzzzz como quando os humanos dormem. 

Para além dos sons dos animais há muito substantivos que também estão associados a sons que representamos: o tic-tac do relógio e o bum de uma explosão parecem ser universais, mas em Portugal temos também o ti-nó-ni ti-nó-ni das ambulâncias, carros de bombeiros ou da polícia, o bii-bii das buzinas, o tring-tring do telefone, o toc-toc da porta, o ping-ping de uma torneira que pinga, o bang de uma porta que bate, o clique ou click do telefone que se desliga e o zip do fecho-éclair. 

Os carros em Portugal aceleram com um vruuuummm-vruuuummm e viram a alta velocidade ou travam com um iiiiiiiiiiiiiii estridente. Os objetos que voam por cima das nossas cabeças ou passam rapidamente à nossa frente emitem o som vuumm e, antigamente, os comboios “diziam” pouca-terra pouca-terra pouca-terra ú-ú, mas agora são silenciosos.

Por último, mas não menos importante, há os sons produzidos pelos humanos. Quando não ouvimos ou não compreendemos o nosso interlocutor dizemos — de forma não muito educada — Hein? ou Hã?. Quando pretendemos dar o nosso consentimento ou simplesmente confirmar que continuamos a prestar atenção emitimos os sons: ãhã! ou umhum.

Gritamos de dor com um ai!, de espanto com um ah!, um oh! ou um mais enfático é pá! e de alívio com um ufa. Descrevemos algo delicioso com um sonoro Mmmmmm geralmente acompanhado de lamber dos lábios ou esfregar da barriga. Vaiamos com um Buuuu! 

Quando queríamo chamar a atenção de alguém costumávamos dizer Psst mas agora já não se usa porque parece mal. Para chamar a atenção de um ou uma “assistente de sala” como são agora conhecidos os/as empregados/as de mesa deve-se simplesmente erguer a mão, com o dedo indicador ligeiramente levantado e segui-lo/a com os olhos até que se digne a olhar para nós e vir atender-nos. 

Falta falar  do choro e do riso. Se o choro é apenas um soluço fazemos snif, se é copioso buá. As risadas que damos são mais complicadas e podem ir do normal ahahahahahah ao infantil ihihihihihihih passado pelo mais sonoro  kkkkkkkk e o rsrsrsrsrs que nunca percebi exatamente o que representa.

Transcrevemos as nossas bacoradas ou coisas que não interessam a ninguém como blá-blá-blá. Tossimos com um cof-cof, espirramos com um ruidoso Atchim, e cuspimos com um Pff.

Na transcrição do podcast supramencionado decidimos deixar a transcrição do som de um escarro em inglês — a língua materna do autor do texto: “haaawk“, mas se tivéssemos de transcrever o som de escarrar em português escreveríamos: RrrrrPfffff como no título deste blogue.