APoesiaEstaRua

Hoje é dia 25 de Abril, a revolução portuguesa faz 51 anos e é cada vez mais importante lembrar alguns dos seus princípios e recordar não apenas as pessoas que fizeram a revolução mas também aquelas que contribuíram para a celebrar como Sophia de Mello Breyner Andresen e Maria Helena Vieira da Silva.

Nome incontornável da literatura portuguesa e da luta pela liberdade, Andresen foi uma das figuras intelectuais que mais cedo e mais claramente se posicionou contra a ditadura. Publicado em 1962, na coletânea “Contos Exemplares”, “Retrato de Mónica” é uma das críticas mais contundentes à sociedade portuguesa da altura. Mónica representa a elite social e cultural que, sob uma aparência de virtude, sucesso e solidariedade, esconde uma profunda superficialidade e conformismo. Através de Mónica, Andresen constrói uma sátira mordaz à sociedade acomodada que sustentava o regime. É também da autoria dela o poema “Esta é a madrugada que eu esperava” escrito para celebrar a revolução.

Vieira da Silva foi instalar-se em Paris em 1928 para dar continuidades aos seus estudos artísticos e tornou-se numa das artistas abstratas mais celebradas do pós-guerra. Apesar de não estar a viver em Portugal quando se deu a revolução, um dos cartazes mais bonitos que a celebram é da sua autoria.

Por ocasião das celebrações do primeiro ano da revolução, Andresen pediu à sua amiga Vieira da Silva para realizar um cartaz cujo mote seria uma frase de um poema seu que tinha aparecido inscrita em cartazes hasteados pelos manifestantes no dia 1 de Maio de 1974: “a poesia está na rua.”

O primeiro cartaz que produz representa de forma abstrata os muitos portugueses que apoiaram os militares nas ruas de Lisboa no dia 25 de abril. O segundo, é mais figurativo, e representa os manifestantes que, empunhando cravos vermelhos, desfilam na rua celebrando a liberdade. Há inclusivamente uma mulher e um militar que se abraçam.

As duas autoras decidem que o lucro das vendas do original e dos cartazes produzidos seriam doados às instituições que apoiavam a reabilitação e reintegração dos muitos jovens militares portugueses que regressaram mutilados da guerra colonial.

Esta colaboração entre as duas artistas demonstra o compromisso de ambas com a liberdade e a democracia e prova como a arte pode ser um instrumento de intervenção cívica.

O cartaz “A Poesia está na Rua” de Vieira da Silva e Andresen capta a essência de um momento de viragem histórica e é por isso amplamente reconhecido como um marco da iconografia da Revolução dos Cravos.