Copyright © 2025 Say it in Portugues. Todos os direitos reservados.
Diseño web ♡ brandinàmic
Como ainda é Natal, gostava de vos falar de outro hábito português desta época: oferecer aos seus familiares e amigos uma garrafa de vinho do Porto.
Apesar deste ser o mais internacional dos vinhos portugueses, não era frequente os portugueses beberem este vinho, preferindo reservá-lo para ocasiões formais como batizados, casamentos e, claro, o Natal.
No tempo da MariaCachucha, ou melhor dizendo há muito, muito tempo, o presente de Natal mais comum entre colegas de trabalho, vizinhos e parentes mais distantes era uma garrafa deste néctar que prontamente se abria para poder servir um copinho às visitas que vinham oferecer presentes ou simplesmente desejar um feliz natal.
A história do vinho do Porto está diretamente ligada aos ingleses não apenas porque foram eles que o internacionalizaram mas sobretudo porque foi por causa deles que foi aprimorado.
Durante a Guerra de Sucessão Espanhola (1701-1714), o Reino Unido impôs restrições à importação de vinhos franceses e os comerciantes ingleses foram obrigados a procurar outros mercados de vinho. Portugal e Inglaterra tinham já assinado um tratado de aliança em 1386 (Tratado de Windsor) mas perante a disputa pelo trono Espanhol que envolvia vários países europeus, os dois países voltaram a assinar, em 1703, um tratado comercial (Tratado de Methuen) que permitia aos ingleses vender os seus tecidos de lã a Portugal e comprar vinho.
A viagem marítima entre Portugal e o Reino Unido era longa e grande parte do vinho chegava estragado. Para reverter esta situação, os produtores de vinho do vale do Douro decidiram aumentar o teor alcoólico do vinho de forma a interromper a sua fermentação. O vinho de mesa fortificado com aguardente vinícola (uma bebida destilada com um elevado teor alcoólico) era mais doce (porque a fermentação terminava antes do açúcar natural da uva se converter em álcool), tinha maior teor alcoólico e, sobretudo, “viajava” melhor porque a adição de aguardente impedia a sobrevivência de leveduras tornando o vinho mais estável e consistente.
Tendo ultrapassado as dificuldades do transporte, os ingleses viraram-se para a qualidade e pressionaram o governo português da altura, liderado pelo Marquês de Pombal, para criar a primeira região vinícola regulamentada e demarcada do mundo, o que aconteceu em 1756.
Com um produto de grande qualidade, com maior teor alcoólico que os vinhos de mesa comuns e que podia ser transportado por via marítima para lugares distante, os ingleses levaram-no consigo para os recantos mais longínquos do seu grande império e, através das suas redes, comerciais para o resto do mundo.
Foram também os ingleses que começaram a servir vinho do Porto em banquetes e cerimónias de estado e associaram-no dessa forma a uma imagem de prestígio, bom gosto e luxo.
A procura inglesa por este produto português fez crescer a área de produção bem como a sua exportação. Várias famílias inglesas, como os Symington, Taylor, Croft e Sandeman, instalaram-se no Porto e criaram, em Vila Nova de Gaia, uma série de caves onde armazenavam e envelheciam o vinho que descia pelo rio Douro em barcos rabelos antes de exportarem para o mercado global.
E foi assim, com uma “mãozinha” inglesa, que o Vinho do Porto se tornou um dos vinhos mais prestigiados e reconhecidos internacionalmente e passou a ser durante o século XIX o produto nacional mais exportado.
Este produto-chave da economia portuguesa transformou-se num símbolo cultural do país e apesar das campanhas publicitárias mais recentes para promover o consumo deste vinho entre a população mais jovem, algumas delas reutilizando um dos slogans mais conhecidos da publicidade portuguesa: Foi você que pediu?, a população portuguesa em geral continua a beber este vinho apenas em ocasiões muito especiais.
Ao contrário do bacalhau que importamos e somos os principais consumidores mundiais (ver blogue anterior), o vinho do Porto consumimos pouco mas exportamos muito — graças aos ingleses.