Gabriela, ensina-me uma expressão brasileira que não exista em Portugal, por favor.
Uhummm. Deixa-me pensar… Vejamos se conhece estas:
Fiz o post meio nas coxas, juntando links e citações basicamente pra encher linguiça no blogue sem ter de pensar muito.
Lamento desapontar-te mas esses dois idiomatismos existem na tugolândia. Apenas os dizemos de forma um pouco diferente… Fazer algo nas coxas deve corresponder ao nosso fazer algo em cima do joelho. Esta expressão, que já explicámos em dois podcasts anteriores (episódios 127 e 151) significa fazer algo de maneira precária e descuidada mas também no último momento ou em cima do prazo.
No Brasil, fazer nas coxas ou no meio das coxas apenas descreve o desleixo — fazer algo sem caprichar.
Em vez de coxa, os tugas dizem “joelho” e acrescentamos a nuance do timing apressado… uma característica bem portuguesa de fazer tudo à última hora. Convido os nossos ouvintes a rever os podcasts em que descrevemos os dois usos desta expressão mas sobretudo o podcast que explica a origem da frase: “fazer em cima da coxa” ou, como dizemos em Portugal: “em cima dos joelhos.”
E vocês também dizem pra encher linguiça para descrever as pessoas que pretendem enrolar ou preencher espaço com embromação.
Nós dizemos encher chouriços para descrever a adição de conteúdo desnecessário, simplesmente para aumentar o volume ou a duração de algo. Quem “enche chouriços” são as pessoas que falam de modo prolixo, sem acrescentar informações relevantes.
Nunca saberemos porque é que os meus conterrâneos preferem a linguiça ao chouriço, mas nos dois países a frase quer dizer preencher espaço com coisas inúteis. No Brasil, a frase também pode descrever quando alguém tenta falar mentiras ou tenta embromar ou enganar a outra pessoa.
Não consegues pensar noutra expressão que não exista no meu país?
Uhhmmmm… Aposto que esta, vocês não têm não…
A equipe de TI (Tecnologia da Informação) passou o fim de semana inteiro tentando descascar o abacaxi do sistema que travou justo antes do lançamento do novo produto.
Pois não. Essa é totalmente nova para mim e nem sequer funciona se substituir o nome do fruto para “ananás” que é bastante mais comum em Portugal do que o abacaxi.
Mas você compreende o que quer dizer, não compreende?
Considerando o difícil que é descascar um ananás ou um abacaxi por causa da sua casca dura e cheia de reentrâncias, presumo que quer dizer resolver um problema difícil.
Isso mesmo: resolver uma questão complicada geralmente herdada de outra pessoa ou não causada por nós. Como ilustram os seguintes exemplos:
O prefeito recém-eleito terá que descascar o abacaxi das dívidas deixadas pela administração anterior.
O advogado sabia que teria que descascar um grande abacaxi ao aceitar defender um cliente em um caso tão complicado e polêmico.
E para não encher mais linguiças, nem chouriços, hoje ficamos por aqui.
VOCABULÁRIO
conterrâneo: concidadão, compatriota
desleixo: pouco cuidado
herdada: v.herdar receber por transmissão
precária: frágil
prolixo: que usa demasiadas palavras, palavrosos
OUTRAS EXPRESSÕES MENCIONADAS
fazer nas coxas / no meio das coxas [PTBR]
fazer em cima dos joelhos [PTE] (episódios 127 e 151)
encher linguiças [PTBR]
encher chouriços [PTE]