Quem andar a ouvir a rádio TSF nas últimas semanas, terá certamente escutado um anúncio onde a expressão não ser farinha do mesmo saco é usada. Ainda que não seja difícil compreender o seu significado pelo contexto, gostaríamos ainda assim de explicar como se usa esta frase.
Em latim, a expressão são homens da mesma farinha — homines sunt ejusdem farinae — sugere que do mesmo modo que a farinha de boa qualidade se separa da farinha de menor qualidade também as pessoas se podiam classificar de acordo com as suas diferentes qualidades. Esta sentença latina está na origem da frase portuguesa ser ou não ser farinha do mesmo saco.
Na língua de Saramago, a expressão pode ser usada de forma positiva ser farinha do mesmo saco ou negativa não ser farinha do mesmo saco para sublinhar, respetivamente, as semelhanças ou as diferenças existentes entre pessoas ou grupos. Dois exemplos de uso seriam:
Na verdade, tanto os socialistas como as esquerdas radicais são farinha do mesmo saco.
Eles até podem ser irmãos-gémeos, mas não são farinha do mesmo saco: um gosta de aventura e desportos radicais enquanto o outro prefere refugiar-se num livro.
A expressão pode ser elogiosa como quando o saco está cheio de farinha de qualidade. Vejamos os seguintes exemplos:
Um amigo disse-me que eu e o meu marido eramos farinha do mesmo saco e eu fiquei muito orgulhosa de ser o mesmo tipo de pessoa que ele.
Ser farinha do mesmo saco é, em si, uma base sólida para duas pessoas se respeitarem.
Muito mais frequentemente esta expressão é usada de forma pejorativa ou crítica como nos seguintes exemplos:
Nas eleições não temos alternância, da direita à esquerda, são todos farinha do mesmo saco.
Os políticos são todos farinha do mesmo saco, andam todos metidos nos mesmos negócios escuros.
Não quero ser farinha do mesmo saco de gente que anda por aí de capa e batina a vender-se aos turistas.
Ser farinha do mesmo saco é, assim, uma expressão sinónima de outras duas: ser da mesma estirpee ser da mesma laia. Note-se, porém que ser da mesma estirpe pode ser usado de modo positivo ou negativo enquanto que ser da mesma laia é usado exclusivamente em sentido pejorativo.
Quando dizemos que não somos da mesma laia de alguém ou de outro grupo de pessoas, o nosso objetivo é distanciarmo-nos ou dissociarmo-nos clara e definitivamente dessa gente porque a desconsideramos ou não respeitamos e, por isso, não queremos ter qualquer tipo de associação ou vínculo com elas.
A frase junte-se aos da sua laia pode inclusivamente ser considerada como uma forma diplomática de insultar outra pessoa muito semelhante a mandar alguém à merda ou foder-se que, em Portugal, são palavrões insultuosos usados exclusivamente em contextos muito restritos e altamente informais.
É importante não confundir o uso de ser farinha do mesmo saco com estar no mesmo barco que pretende simplesmente descrever o facto de alguém partilhar as mesmas circunstâncias ou ser vítima do mesmo infortúnio, como demonstram os seguintes exemplos:
Estamos todos no mesmo barco: se a empresa for à falência acabamos todos no desemprego.
Durante a reunião ficou claro que estamos todos no mesmo barco e, portanto, precisamos de nos unir e falar a uma só voz.
BIBLIOGRAFIA
Farinha do mesmo saco – origem da expressão. Só Português. Virtuous Tecnologia da Informação, 2007-2018. — consultado A 18 de janeiro de 2018
A origem de laia. Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. 22.09.2006. — consultado a 24 de janeiro de 2018
OUTRAS EXPRESSÕES MENCIONADAS
[não] ser da mesma laia
[não] ser da mesma estirpe
vai à merda
vai-te foder
estar no mesmo barco
EXPRESSÕES SEMELHANTES EM OUTRAS LÍNGUAS
two of a kind [EN]
two peas in a pod [EN]
birds of a feather [EN]
chip of the old block [EN]
to be cast in the same mould [EN]
de la même farine [FR]
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