Na continuidade dos bordões linguísticos que apresentamos na semana passada gostaríamos de apresentar mais uma bengala usada pelos brasileiros: bicho.
A palavra bicho tem vários significados: é sinónimo de animal de grande porte como cavalo ou touro mas também pode fazer referência a qualquer inseto ou pequeno animal rastejante. Também usamos esta palavra para designar uma pessoa pouco sociável e há até quem prefira dizer bicho-do-mato para reforçar a ideia que mais do que pouco ou nada sociável esta pessoa é intratável, como um animal selvagem. Vejamos os seguintes exemplos:
Aquele menino é um autêntico bicho, não tem modos nenhum.
O teu marido é um bicho-do-mato não fala com ninguém e quando alguém tenta falar com ele é indelicado.
No Brasil, bicho quer também dizer caloiro ou estudante do primeiro ano de um curso superior ou universitário. E existe também o Jogo do Bicho que é um jogo de apostas semelhante à lotaria portuguesa assim chamado porque em vez de uma série de números usa animais para representar grupos de números. Esta palavra é também usada informalmente e apenas entre homens como forma de tratamento ou vocativo como no seguinte exemplo:
Oi bicho, tudo legal?
É importante sublinhar que este uso é bastante informal usado exclusivamente entre pessoas do sexo masculino com uma relação de amizade forte.
Em Portugal há também a expressão: matar o bicho que pode querer dizer matar a fome ou a sede mas esta expressão não é usada no Brasil.
Essa expressão faz-me lembrar outra que usámos no último podcast e não chegamos a explicar:
Estás a falar de comer que nem um abade?
Sim. Na realidade creio que quando se fala em abade toda a gente imagina um senhor bastante gordinho e pachorrento portanto comer como uma abade só pode querer dizer comer bem e fartamente.
Nesse podcast também fizemos referência à expressão idiomática largar mão.
Em Portugal, acho que é mais comum dizer abrir mão mas ambas as sentenças querem dizer o mesmo que desistir, renunciar ou abdicar de alguém ou de alguma coisa. Terminemos o podcast com exemplos de uso destes coloquialismos:
Neste restaurante, come-se que nem um abade. Vou recomendá-lo no TripAdvisor.
Trabalhar meramente por dinheiro é largar mão da felicidade…
Depois da crise, todos tivemos de apertar o cinto e abrir mão de muitas regalias laborais que tínhamos conquistado no tempo das vacas gordas (ver episódio 37).
OUTRAS EXPRESSÕES MENCIONADAS
abrir / largar mão
bicho
comer que nem um abade
no tempo das vacas gordas (episódio 37)
Download the files