Para explicar este ditado popular é necessário começar por definir a palavra “comadre.” A primeira aceção desta palavra descreve a relação que existe entre os pais de uma criança e os padrinhos do seu filho. Em países católicos como Portugal, os pais de um recém-nascido costumam convidar duas pessoas para serem padrinhos do seu filho ou filha. De acordo com os princípios do catolicismo essas duas pessoas têm a obrigação de auxiliar os pais da criança na sua educação religiosa. É frequente essas duas pessoas não fazerem parte da família do bebé, isto é não terem com os pais dele ou dela nenhuma relação familiar e como tal foi necessário criar uma palavra para descrever a relação entre o pai e a mãe do bebé e as duas pessoas que eles escolheram para apadrinhar o seu filho ou filha. Essas palavras são “compadre” para o padrinho do bebé e “comadre” para a madrinha.
Estas palavras são igualmente usadas para descrever a relação familiar existente entre os pais de duas pessoas casadas. Neste caso, o sogro da tua filha ou filho passa a ser o teu compadre e a mulher dele ou a sogra da tua filha ou do teu filho, a tua comadre.
Um outro significado atribuído à palavra “comadre” é “mulher mexeriqueira” ou pessoa que procura estar informada sobre os pormenores da vida dos outros para falar mal deles, fazer intrigas e espalhar boato.
O ditado que queremos explicar no episódio de hoje mistura estas dias aceções ou significados da palavra “comadre”. A expressão completa é zangam-se as comadres, descobrem-se as verdade e a ideia que pretende transmitir é quando duas pessoas com uma relação íntima que conhecem muitos segredos uma da outra se zangam e começam “mexericar” ou a revelar coisas que podem ou não ser verdadeiras uma sobre a outra.
Acusar exclusivamente as mulheres de serem “mexeriqueiras” é algo absolutamente sexista e consequentemente censurável e condenável. Assim, talvez devêssemos modificar a frase para zangam-se os compadres, descobrem-se as verdades pois dessa forma estaríamos igualmente a incluir os homens bisbilhoteiros, coscuvilheiros e mexeriqueiros.
Enquanto isso não acontece, usamos a expressão na sua versão sexista para descrever uma viragem nas relações de duas pessoas ou instituições que até um determinado momento se comportavam como amigas íntimas e depois passaram a revelar “verdades” que, até àquele momento, se desconheciam ou não estavam detalhadas.
A necessidade de explicar esta expressão surgiu devido às notícias recentes de que, com a aproximação das eleições legislativas em Portugal, a famosa gerigonça se está a desintegrar. “Gerigonça” é a palavra cunhada pelo anterior Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho para descrever a estratégia governativa adotada pelo Partido Socialista quando assumiu o poder em novembro de 2015.
Não tendo conseguido uma maioria parlamentar que lhe permitisse governar de forma confortável, o Partido Socialista decidiu negociar, antecipadamente e fora do parlamento, a aprovação das medidas legislativas que pretendia adotar com dois partidos: o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português (PCP). De acordo com os órgãos de comunicação social portugueses começam a surgir diferentes versões da contribuição de cada um destes partidos para a governação do país nos últimos quatro anos… ou como afirmam muitos cabeçalhos… zangaram-se as comadres…
E como para bom entendedor, meia palavra basta, a expressão fica também ela a meio pois mais não é preciso dizer…
VOCABULÁRIO
aprovação: (em parlamento) decidir favoravelmente sobre uma medida ou lei
auxiliar: o mesmo que ajudar
boato: o mesmo que rumor ou informação divulgada sem que se conheça o seu autor e portanto não se possa confirmar
censurável: que deve ser criticado
princípios: o mesmo que regras
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