114. TER UM OLHO NO PEIXE

Expressão pretende alertar as pessoas para o imprevisto da autoria de Leaticia Ouedraogo.


No seguimento do convite que fizemos aos nossos ouvintes para colaborarem connosco na produção de episódios temos o prazer de apresentar um episódio que nos foi enviado pela Leaticia Ouedraogo.
A expressão que ela escolheu é um olho no peixe e outro no gato que pretende alertar as pessoas para o imprevisto.

 

UM OLHO NO PEIXE, OUTRO NO GATO

Esse provérbio português tem pelo menos dois sinónimos. O primeiro é “um olho no prato, outro no gato” e o segundo é “um olho no padre, outro na missa”. Essas três expressões têm várias interpretações, mas de modo geral pode dizer-se que descreve uma situação em que é preciso prestar atenção ao mesmo tempo a duas coisas diferentes, frequentemente antagónicas: uma delas representando um perigo ou uma ameaça para a outra. Generalizando, este ditado alerta para a importância de estarmos atentos ao que é banal ou ordinário, e simultaneamente ao que possa ocorrer de inesperado ou, por outras palavras para a necessidade de estar atento não apenas ao que é óbvio, mas também a algo que nos pode surpreender ou, até mesmo, enganar.
Quando alguém diz “um olho no peixe, outro no gato” facilmente imaginamos um peixeiro que mantem uma vigilância atenta quer ao peixe que está a limpar, arranjar ou arrumar, quer ao gato que não parecendo nada interessado está, muito provavelmente, à espera de uma oportunidade para roubar aquele mesmo peixe e sair correndo com o seu “prémio” na boca.
A substituição da palavra peixe por prato não altera em nada a imagem que projeta, já que “peixe” e “prato” podem representar a comida em geral e, consequentemente o objeto de desejo de um gato mais atrevido. Considerando a astúcia dos gatos, é muito provável que o felino acabe por conseguir o que quer apesar dos nossos esforços e, portanto, esta frase pretende ainda prevenir para a necessidade de nos prepararmos para o inevitável.
No que diz respeito à expressão “um olho no padre, outro na missa”, a etimologia sugere um contexto religioso e mais especificamente cristão.
Existem muitas capelas cristãs construídas em pontos estratégicos, em elevações, à entrada de uma baía ou na curva de um rio, onde se rezava missa para uma assistência de militares que se encontravam no local para o defender de ataques. Como é hábito numa cerimónia religiosa católica, os crentes sentam-se de costas para a porta de entrada da igreja e o padre que reza a missa coloca-se perante eles e é o único que pode ver a entrada. Assim, enquanto o padre rezava a missa, ele permanecia igualmente atento a algum perigo que pudesse surgir à entrada da capela ou nas costas dos oficiais e soldados que ouviam o seu sermão por forma a poder avisá-los da iminência de um ataque e daí, os soldados terem que ficar com “um olho no padre, outro na missa” pois a qualquer momento podiam ter de regressar aos seus postos de combate. Vejamos alguns exemplos de uso.

A realidade do mercado de trabalho hoje é que profissionais qualificados e inovadores não se acomodam e estão sempre em busca do desenvolvimento que possibilite novas oportunidades. Estão sempre com um olho no padre e o outro na missa, ou seja, focados no seu trabalho atual, mas atentos a outras ofertas de trabalho que lhes possam surgir.

Os cidadãos estão felizes com os resultados da equipe nacional na Copa do Mundo de Futebol, mas não devem esquecer-se que em breve iremos ter eleições presidenciais. É importante manter um olho no prato e outro no peixe.

Não podes contar com o ovo no cú da galinha (ver episódio 17), tens de ter um olho no peixe e outro no gato.

 

VOCABULÁRIO
antagónicas: o mesmo que oposto ou contrário
atrevido: o mesmo que ousado ou desafiador
etimologia: origem e formação da palavra
iminência: o mesmo que imediato
inevitável: que não se pode evitar, impossível de prevenir
prevenir: acautelar-se se ou tomar cuidado antecipadamente
rezar: o mesmo que orar

 

 

SOBRE A AUTORA
Chamo-me Leaticia Ouedraogo, sou originária do Burkina Faso, mas moro na Itália desde a idade de 11 anos. Agora tenho 21 anos e sou estudante de Licenciatura em Línguas Modernas na Universidade Ca’ Foscari de Veneza.  Escolhi estudar português porque um dos meus objetivos é ter um bom conhecimento das línguas europeias oficiais faladas em África.

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