Na semana descrevemos como os nossos lençóis podem ser ao mesmo tempo maus porque contribuem para a transmissão de várias doenças de pele ou são terreno para animais que nos atacam durante o sono e bons quando transformam a nossa cama num maravilhoso, aconchegante e confortável vale onde dormir é um aprazível regalo. Esta semana vamos falar de estribos e de perder as estribeiras.
Um estribo é uma espécie de alça suspensa de cada lado de uma sela onde o cavaleiro coloca o seu pé para montar o cavalo. Depois de sentados na sela e quando cavalgam, os cavaleiros mantêm os seus pés nos estribos para manter o equilíbrio e a estabilidade e também para melhor controlar a sua montada. Assim, é importantíssimo não deixar que um ou ambos os pés saiam dos estribos pois isso poderá provocar perda de controlo do cavalo, o desequilíbrio momentâneo do cavaleiro ou in extremis a sua queda.
Acredita-se que a frase perder as estribeiras tem origem nos torneios de cavalaria muito populares do século XV ao século XVII e nos quais perder o apoio de pés ou deixar que os pés saíssem dos estribos, ainda que apenas por alguns instantes, significava a penalização ou até a desclassificação do cavaleiro.
Na sociedade moderna, a expressão descreve uma situação ou um momento em que alguém se descontrola e adopta um comportamento fora do normal ou explode e responde de forma excessiva ou exagerada a uma provocação.
Em contextos mais populares e informais, ouve-se mais frequentemente o idiomatismo saltar-lhe a tampa ou o coloquialismo começar a desatinar exatamente com o mesmo significado.
Notem por favor que todas estas frases idiomáticas estão diretamente associadas com perda de controlo tal como acontece ao cavaleiro que deixa de dominar o seu cavalo ou se desequilibra e nada têm que ver com perder o norte ou desnortear-se cujo significado literal está relacionado com perder-se no sentido de transviar-se ou escolher um caminho errado. Na base deste dizer estão as longas viagens realizadas com o apoio de uma bússola indicando o norte magnético aos caminhantes. Outra expressão com o mesmo significado mas de uso bastante menos comum é perder a tramontana. Em italiano, a estrela polar ou estrela do norte que em alto mar servia para orientar as viagem dos navegadores designa-se como stella tramontana ou a estrela que está para além dos montes e portanto perder esta estrela significa o mesmo que perder o norte ou deixar de saber que orientação tomar ou que caminho seguir. Deste significado literal não é difícil extrapolar o significado metafórico de desviar-se dos seus objetivos.
Seguem-se alguns exemplos de uso:
Por favor, não me faças perder as estribeiras contigo!!!!
Quando ele atirou o telemóvel dela para dentro de água, ela perdeu as estribeiras e começou a insultá-lo.
Quando a namorada dele o acusou de traição, ele precisou de muito controlo para não começar a desatinar com ela.
Depois de 1 hora a ouvir o meu supervisor a dizer disparates, saltou-me a tampa e disse-lhe um par de verdades.
O meu sentido de orientação é bastante bom e raramente me desoriento.
Depois de uma viagem transatlântica é frequente acordar completamente desorientada, sem saber onde estou ou que horas são.
Depois da saída do diretor, a empresa perdeu o norte.
O que ele me disse, fez-me perder o norte e, consequentemente, as estribeiras.
Durante a discussão do orçamento nenhum dos deputados perdeu as estribeiras mas houve alguns que perderam o norte e começaram a dar o dito por não dito ou a meter os pés pelas mãos e dizer o contrário do que tinham dito ou a voltar atrás nas promessas eleitorais que tinha feito.
OUTRAS EXPRESSÕES MENCIONADAS
saltar-lhe a tampa
[começar a] desatinar
perder o norte
desnortear-se
perder a tramontana
perder a estrela que está para além do monte
dar o dito por não dito
meter os pés pelas mãos
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