É frequente destacarmos uma ou várias características dos animais, especialmente daqueles que nos estão mais próximos, como os animais domésticos, ou os animais selvagens que fazem parte do nosso imaginário devido à sua presença em histórias infantis ou lendas, para elogiar ou criticar as pessoas ou simplesmente descrever um determinado comportamento. Dizemos, por exemplo, que alguém é esperto como um rato, corajoso como um leão, estudioso como um mocho, e teimoso como um burro ou uma mula.
É igualmente possível chorar lágrimas de crocodilo e ter olhos de lince ou águia, um estômago de avestruz e uma memória de elefante.
Quando acusamos alguém de chorar lágrimas de crocodilo estamos a criticar ou recriminar essa pessoa de fingimento ou hipocrisia, por estar a fingir uma tristeza que na realidade não sente. Quando alguém tem uma excelente vista (100/100) ou um olhar muito apurado e perspicaz dizemos que tem olhos de lince ou águia — dois animais com uma visão extremamente boa.
Pelo contrário, quando comentamos sobre a memória de elefante de alguém estamos a elogiar a sua enorme ou infalível memória já que estes animais possuem um poderoso sentido de orientação que lhes permite viajar longas distâncias e, ainda assim, recordar os locais por onde passaram e onde poderão encontrar a água e a comida necessários à sua sobrevivência.
Tal como acontece com as restantes aves, as avestruzes não têm dentes e engolem os alimentos inteiros. Por vezes, na sua sofreguidão engolem até objetos não comestíveis como pequenas pedras ou pedaços de madeira. Felizmente os seus sucos gástricos são muito poderosos e, consequentemente, não têm qualquer problema na sua digestão. Considerando esta realidade, usar a expressão ter estômago de avestruz para descrever alguém que é boa-boca ou uma pessoa que não é esquisita ou picuinhas em relação à comida que lhe colocam à frente e nunca tem problemas digestivos, não surpreende.
Conquanto algumas destas comparações tenham um fundamento real, outras há que não são verdadeiras ou sequer cientificamente plausíveis. As avestruzes não enterram a cabeça na areia, no entanto é frequente dizermos, como já descrevemos num podcast anterior (008 fazer orelhas moucas), que alguém está a enterrar a cabeça na areia como a avestruz sempre que essa pessoa se recusa a ouvir uma verdade ou enfrentar a realidade.
Para além do recurso a características animais mais ou menos lógicas ou verosímeis para descrever qualidades ou defeitos humanos, outras expressões há que não apresentam nenhuma relação lógica entre o animal a que fazem referência e o seu significado. Um exemplo deste tipo de expressão é ter macaquinhos na cabeça.
Os macacos são animais sociais e as suas crias são particularmente brincalhonas. Quando pensamos num grupo de macaquinhos ou jovens macacos, a imagem que nos vem à cabeça é que uma grande movimentação e agitação, confusão e gritaria geradas pelas brincadeiras e traquinices que vão acontecendo entres os animais. Considerando esta imagem de brincadeira, divertimento e felicidade associada com um grupo de macaquinhos é difícil perceber porque é que a expressão ter macaquinhos na cabeça ou no sotão significa precisamente o oposto.
A expressão descreve uma pessoa que inventa coisas para se preocupar, imagina coisas terríveis ou fantasia receios completamente infundados. Ter macaquinhos na cabeça é, por assim dizer, uma crítica bastante negativa às múltiplas preocupações ou receios exagerados que alguém apresenta sem qualquer razão lógica ou fundamentada.
OUTRAS EXPRESSÕES MENCIONADAS
chorar lágrimas de crocodilo
ser esperto como um rato
ser corajoso como um leão
ser estudioso como um mocho
ser teimoso como um burro ou uma mula
ter olhos de lince ou águia
ter um estômago de avestruz
ter uma memória de elefante
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