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Passámos o Natal a beber Porto e começamos o ano a beber Mateus Rosé.
O vinho Mateus Rosé é possivelmente mais conhecido por ser um estudo de caso do marketing do que pela sua qualidade, mas não deixa de ser interessante falar de um vinho que “ensinou” os anglófonos a apreciar vinho.
Apesar de poder produzir vinho de norte a sul, Portugal não poderá nunca competir com produtores como a Espanha, a França ou a Itália e para se destacar necessita de vinhos especiais como o Porto (protegidos por regiões demarcadas) ou características diferenciadoras como é o caso do Mateus Rosé.
Os vinhos rosé podem ser produzidos a partir da mistura de vinhos tinto e branco (método que, supostamente, produz vinhos de menor qualidade) ou encurtando o tempo de maceração impedindo desse modo que o líquido alcance a colocação de um tinto. No caso do Mateus Rosé, que é produzido na região dos vinhos verdes (norte atlântico), a produção faz-se a partir de uvas tintas mas recorrendo ao processo de vinificação do vinho branco. E o resultado é um vinho frutado, ligeiramente “pétillant” ou gaseificado.
O seu criador, Fernando van Zeller Guedes, decidiu engarrafá-lo numa garrafa que fizesse lembrar o cantil de água dos soldados da Segunda Grande Guerra (ainda a decorrer quando foi desenvolvido este vinho) e selecionou para o rótulo uma fotografia da fachada do Palácio Mateus, um edifício do início do século XVIII de estilo barroco do arquiteto italiano Nicolau Nasoni.
O formato da garrafa e a beleza do rótulo deram ao vinho um ar distinto e para o promover internacionalmente, Guedes enviou duas garrafas a todos os embaixadores e cônsules portugueses: uma para consumo próprio e outra para oferecer a um amigo local. Essa estratégia de marketing não apenas deu a conhecer este vinho ao mundo como aumentou as suas vendas internacionais muito particularmente em lugares onde era mais tradicional beber cerveja que vinho, como é o caso do Reino Unido, da Austrália e dos EUA.
Em 30 anos, o Mateus Rosé passou a ser o vinho pedido pela Rainha de Inglaterra, “exibido” voluntária ou involuntariamente por figuras públicas como Jimi Hendrix ou Steve Jobs e mencionado na letra de uma das canções do então popular cantor inglês Elton John.
Seguindo o exemplo das campanhas publicitárias originais e irreverentes dos vinhos do Porto Ramos Pinto, o Mateus Rosé desenvolveu uma estratégia de marketing cujo objetivo era posicionar este vinho como artigo de luxo, sofisticado mas acessível às carteiras menos recheadas e, sobretudo, aos consumidores menos conhecedores das regras da enologia. Ao posicionar o Mateus Rosé como um vinho despretensioso, ideal para inúmeras ocasiões mais ou menos especiais, a Sogrape conseguiu conquistar um público jovem que aprendeu a beber vinho com esta marca.
Na década de 70 do século passado, o Mateus Rosé foi o vinho mais vendido do planeta mas não em Portugal onde, claro está, “santos da casa não fazem milagres.” No mercado nacional, este vinho era considerado um vinho de verão devido ao baixo teor alcoólico e sabor frutado e consumido maioritariamente por um público feminino.
Nas duas décadas que se seguiram, o vinho foi vítima do seu próprio sucesso, perdeu popularidade e tivemos de esperar o novo milénio para a Sogrape relançar o seu produto mais icónico com a campanha Drink Pink (que foi usada nos mercados nacional e internacional) e as vendas voltarem a subir, incluindo em Portugal que passou a ser o segundo país onde mais se comercializa este vinho a seguir ao Reino Unido.
O Mateus Rosé é um exemplo excecional de como a embalagem e o marketing podem transformar o sucesso de um produto não uma mas duas vezes. E, tal como o vinho do Porto, conquistou o mundo graças ao fraquinho que os ingleses têm por uma boa pinga.