A imagem usada para descrever esta censura não podia ser mais gráfica e, portanto, fácil de compreender, mas como existem várias expressões idiomáticas que descrevem e valorizam a determinação de alguém para realizar uma tarefa ou alcançar um objetivo ou melhor dizendo a persistência ou perseverança de um indivíduo, neste episódio tentarei explicar as pequenas nuances ou diferenças que as distinguem.
Remar contra a maré descreve sobretudo a persistência de alguém que contra tudo e contra todos se esforça por chegar a um objetivo ou cumprir uma determinação. A imagem que esta expressão nos oferece é de alguém que escolhe o caminho mais atribulado, pois seria muito mais fácil e produtivo deixar-se ir com a corrente ou a maré. Esta frase sublinha as dificuldades encontradas, todos os obstáculos que se colocam perante a determinação de alguém e, consequentemente, elogia a perseverança de todos aqueles que estão dispostos a contrariar o status quo ou desafiar as circunstâncias que os rodeiam para alcançar os seus propósitos. Considerando que o esforço necessário para — literalmente — remar contra a maré é considerável, a pessoa que o faz é digna de mérito e merece o nosso respeito e admiração.
Quando alguém tenta repetidamente, mas sem sucesso levar a cabo uma tarefa ou alcançar um objetivo que é, ou parece ser, impossível de realizar dizemos que está a bater com a cabeça contra a parede. Este dito sentencioso da linguagem popular também descreve ou retrata a persistência de alguém, mas o foco deixou de ser o mérito da tenacidade ou do empenho para passar a ser da obstinação ou teimosia. Esta expressão critica alguém que apesar de já ter batido uma vez com a cabeça na parede ou, melhor dizendo, alguém que mesmo depois de compreender que os seus esforços são em vão e os seus objetivos são irrealistas, insiste obstinadamente em bater na mesma tecla (episódio 30). Ao contrário de remar contra a maré, este idiomatismo sublinha a idiotice de insistir em algo que não funciona ou repetir uma ação que já identificámos como errada ou prejudicial.
A expressão dar murros em ponta de faca detalha a mesma situação que bater com a cabeça na parede, acrescida de uma recriminação.
Existem circunstâncias que estão fora do nosso alcance e que nos levam a repetir ações ou comportamentos indesejáveis e nem sempre se aprende à primeira, portanto é admissível, até mesmo perdoável, repetir um erro ou reincidir num fracasso ou, como diria o Zé Povinho (ver episódio 97) bater com a cabeça na parede. O que não se compreende é alguém que, sabendo de antemão o perigo que corre, insiste em levar avante a sua ação.
Assim, remar contra a maré é admirável, bater com a cabeça na parede pode, em certas circunstâncias, ser perdoável, mas dar murros em ponta de faca é completamente imbecil e por isso recriminável.
Vejamos os seguintes exemplos de uso destas três expressões:
Insistir numa relação que tanto te fez sofrer é dar murros em ponta de faca.
Existem várias pesquisas mostrando que investir naquele mercado seria uma verdadeira burrice, murro em ponta de faca.
Se já percebeu que não pode confiar naquele amigo, não compreendo por que razão continua a bater com a cabeça na parede.
É pouco provável que uma instituição centenária se adapte aos tempos modernos, por isso não vale a pena bater com a cabeça na parede insistindo que se atualize.
Em vez de remar contra a maré, identifique os pontos de oportunidade que façam a sua empresa destacar-se da concorrência, de forma a conseguir ficar cada vez mais competitivo.
Para evitar que os europeus se distanciem cada vez mais da União Europeia, a Comissão precisa de ouvir as reivindicações dos cidadãos em vez continuar a remar contra a maré como tem feito até ao presente.