71. PELO NATAL, CADA OVELHA

Cada pessoa deve conhecer o seu lugar e não se intrometer na vida ou nas festas alheias.


Tradicionalmente nos meses de inverno o frio e a geada obrigam os tratadores de gado ou pastores a trazer os seus animais para dentro de um recinto fechado também conhecido como curral onde estes estão mais protegidos dos elementos como a chuva ou, em alguns locais de Portugal a geada ou até e neve e podem ser mais facilmente alimentados, pois nos campos por onde costumam andar nos restantes meses do ano não existe muita pastagem.

É bastante comum um pastor ser responsável por vários rebanhos e os animais partilharem zonas de pastagem mas quando chega a altura de os aprisionar e alimentar, naturalmente que cada animal regressa aos cuidados do seu proprietário e ao curral gerido por este. A frase pelo Natal, cada ovelha no seu curral é absolutamente literal — em Dezembro, ou melhor dizendo no pino do inverno os animais que estavam a alimentar-se livremente ou a pastar em diferentes zonas onde existissem boas pastagens regressaram a casa ou ao seu curral. Como a sabedoria popular se baseia muitas vezes em factos ou eventos do dia-a-dia e adapta-os ou transforma-os para descrever outras realidades, esta particularidade do cuidado dos animais no inverno adquiriu um novo sentido e ganhou estatuto de provérbio.

Em Portugal, as festas que estão associadas com a celebração religiosa do Natal católico são consideradas como eventos exclusivamente familiares. Este é o momento em que todos os membros de uma família, mesmo aqueles que pertencem ao círculo mais alargado, como tios e primos, se reunem para conviver frequentemente à volta de uma mesa repleta de comida. É muito raro que pessoas externas à família, sobretudo aquelas que não têm qualquer laço de sangue, sejam convidadas para o almoço, o jantar ou a ceia de Natal.

Uma maneira indireta e consequentemente menos conflituosa de lembrar esta realidade é dizer pelo Natal, cada ovelha no seu curral que podemos parafrasear ou dizer por outras palavras como: “cada pessoa deve festejar o Natal com a sua própria família.”

Deste significado — ainda bastante literal — extrapolou-se outro que pretende fazer uma advertência às pessoas que tentam ser aquilo que não são ou aspiram pertencer a uma classe social ou mostrar que têm um estatuto sócio-económico acima daquele a que realmente pertencem. O idiomatismo cada macaco no seu galho não faz referência ao Natal mas tem o mesmo significado.

No Brasil a expressão cada macaco no seu galho apresenta um segundo significado pala além do atrás descrito. A frase é o título de uma música da autoria do compositor e sambista baiano Riachão que foi popularizada pelos cantores Caetano Veloso e Gilberto Gil quando a escolheram para assinalar o seu regresso ao Brasil depois do período que passaram no exílio devido à ditadura militar que existia no seu país. Na letra da canção a frase pretende aconselhar as pessoas a fazer o seu trabalho sem interferir ou intervir no trabalho dos outros ou a reconhecer o seu lugar na hierarquia das coisas e a não se intrometer, se imiscuir, ou se meter em assuntos alheios que não lhes dizem respeito e não são da sua competência. Outras frases usadas neste contexto, sobretudo no Brasil, são: cada um na sua e cuide de sua vida que eu cuido da minha. Em Portugal, existe a advertência ou mais frequentemente o rebate ou ameaça verbal mete-te na tua vida. Usamos esta frase quando desejamos dizer a alguém que a sua opinião ou juízo de valor não é bem-vindo e queremos dar por concluída a conversa.

OUTRAS EXPRESSÕES MENCIONADAS

cada um na sua
cuide da sua vida que eu cuido da minha
no pino do
mete-te na tua vida

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