cartaz da entrada da AAC

Este letreiro que, no final de 2021, engalanava a entrada do edifício da Associação Académica de Coimbra,
serve de inspiração para falar do modo subjuntivo e dos usos do subjuntivo futuro.

O MODO SUBJUNTIVO

1. USOS

Comecemos pelo modo em si.
Os tempos verbais apresentam “modos” dependendo daquilo que pretendem expressar

  1. fazer uma afirmação ou expressar uma opinião: “Eles vêm visitar-me todos os anos”. [indicativo]
  2. dar uma ordem: “Venham visitar-me. [imperativo]
  3. expressar um desejo ou possibilidade ou situações hipotéticas ou imaginárias: “Gostava que viesses visitar-me. [subjuntivo]

Ao contrário dos modos indicativo (que descreve ações concretas) e imperativo (que pretende obter uma reação aos interlocutores), o modo subjuntivo descreve coisas que podem ter ou não ter acontecido, hipóteses portanto, que nunca poderão ser comprovadas. Por isso este modo está associado à incerteza, à dúvida.
Assim o subjuntivo aparece sobretudo em frases com duas orações com o seu próprio sujeito e verbo como no exemplo:

oração 1 [eu] Espero que
oração 2 [tu] tenhas boas férias.

Usamos frequentemente o modo subjuntivo sem saber que o estamos a fazer pois nem sempre é necessário modificar o verbo. Por exemplo, no subjuntivo futuro, a primeira e a terceira pessoa do singular dos verbos regulares apresentam a mesma grafia do infinitivo.

[infinitivo]
Vou chegar a tempo de te visitar.
O comboio não pode chegar atrasado para eu te visitar.
[subjuntivo futuro]
Se chegar a tempo, posso visitar-te. [eu]
Se o comboio não chegar atrasado, posso visitar-te. [ele]

Apenas nas outras pessoas verbais é necessário adicionar uma terminação, assim só se torna claro que iremos necessitar deste tempo verbal quando fazemos referência a outra pessoa verbal ou quando o verbo é irregular.

Se chegarmos a tempo, posso visitar-te.  [nós]
Se tiver tempo, posso visitar-te. [verbo irregular ter]

As línguas românicas atuais herdaram do Latim o modo subjuntivo presente e passado. Em Francês, o modo subjuntivo é usado com a conjugação “que” nas locuções de tipo pour que, à condition que, afin que, en attendant que, soit que… soit que…, de façon que, etc. e depois de verbos como désirer que, douter que, être content que, être désolé que ou expressões impessoais como il convient que, il est dommage que, il est peu probable que, etc. Uma diferença importante entre esta língua e o Português é que depois do verbo “espérer que” [espero que] os franceses usam o presente do indicativo porque consideram que não é uma aspiração próxima de um desejo como em Português, mas uma expectativa concreta:

J’espère que tu es prêt. [indicativo presente]
Espero que estejas pronto. [subjuntivo presente]

Outra diferença entre a língua de Camões e de Molière é que depois da partícula “se” a primeira usa o subjuntivo futuro e a segunda o indicativo presente:

Si vous venez au Portugal et voulez me rendre visite, dites le moi. [indicativo presente]
Se vierem a Portugal e quiserem visitar-me, digam-me. [subjuntivo futuro]

Em Italiano, também se usa o modo subjuntivo da mesma forma que em Português depois de frases impessoais como sembra che, è strano che, etc.; de verbos como credere, pensare, ritenere, volere, temere, sperate, aspettarsi e de expressões como non essere sicuri/certi, essere contento seguidos da conjugação “che”. O modo subjuntivo é igualmente usado depois de ignorare se, e no sapere se, mas quando o verbo “sapere” se usa na afirmativa deixa de ser obrigatório usar este modo verbal. Esta é uma diferença importante com o Português já que em ambas as frases se usa o indicativo presente:

Non so se questo sia il posto migliore per una vacanza. [subjuntivo presente]
Não sei se este é o melhor lugar para fazer férias. [indicativo presente]
So se questo è il posto migliore per una vacanza. [subjuntivo presente]
Sei que este é o melhor lugar para fazer férias. [indicativo presente]

No Italiano, as perguntas indiretas também podem, em contextos mais formais e quando sugerem uma verdadeira dúvida, exigir o uso do subjuntivo imperfeito, enquanto que em Português se usa o pretérito imperfeito com valor de condicional pois pode ser substituído por este sem detrimento do sentido da frase:

Spesso mi è stato chiesto se fosse mia sorella. [subjuntivo imperfeito]
Perguntaram-me muitas vezes se era minha irmã. [pretérito imperfeito]

No Espanhol, os usos do subjuntivo presente e passado são exatamente os mesmos do Português incluindo quando o sujeito expressa a sua opinião recorrendo a frases negativas introduzidas pelos verbos, acreditar, achar, crer, e pensar como nos seguintes exemplos:

No creo que el tiempo mejore.  [subjuntivo presente]
Não acredito que o tempo vá melhorar. [subjuntivo presente]
No pienso que haya tiempo para cumplir objetivos. [subjuntivo presente]
Não penso que haja tempo para atingir os objetivos. [subjuntivo presente]

O Português apresenta mais um tempo do subjuntivo que não existe em Francês e Italiano e cujo uso está em franco declínio em Espanhol: o subjuntivo futuro. No próximo artigo tentaremos explicar os usos do subjuntivo futuro em Português para ajudar os/as aprendentes a compreender o seu funcionamento e utilidade.